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Genética de cores em galinhas 3


Diz-se que nas aves a fêmea é o sexo heterogamético, ou seja, são as fêmeas, no caso os ovos e não os espermatozoides que irão determinar o sexo da futura ave. Como bem explicado no post Genética Básica 2, os machos têm os cromossomos sexuais iguais ZZ, enquanto as fêmeas têm diferentes, ZW. Essa pequena diferença nos dá, à nós criadores, um ferramental amplo para seleção e melhoria no manejo geral, isso porquê, dentre muitas vantagens podemos definir, na data do nascimento, o sexo dos pintinhos (ou outras aves).


Nas galinhas são muitos os genes ligados ao sexo, com é conhecido os genes do cromossomo sexual (Z). Dentre os principais, que incluí numa tabela ao final, cito três:

  • K - Velocidade de empenamento;

  • B - Barrado;

  • S - Dourado.

Esses três genes podem ser observados no pintinho de um dia, facilitando sua sexagem. Os genes do empenamento – tardio e precoce, majoritariamente – são os mais conhecidos por serem largamente utilizados hoje em dia.


Até a década de 1930 as criações comerciais de galinhas não eram muito diferentes das criações caipiras que temos hoje pelo mundo afora, uma grande criação com animais de diferentes idades, onde alguns dos machos são abatidos e as fêmeas são deixadas para reposição, alguns ovos são chocados, outros consumidos. Esse sistema de produção gera uma série de problemas, principalmente com relação à manejo e doenças. Nesta década, nos Estados Unidos, alguns criadores começaram um sistema de criação diferente, selecionando uma raça pura (e consequentemente cruzamentos entre duas raças puras) para uma determinada aptidão, iniciando o imenso abismo que temos hoje entre raças de corte e de postura. Nessa época as raças mais pesadas foram destinadas a produção de carne, como o Cornish, de origem Inglesa e o Gigante Negro de Jersey (depois vou contar a origem do nome e porquê o chamamos equivocadamente), que foi selecionado para substituir o peru de ação de graças, enquanto as raças mais leves foram selecionadas para postura, como a Leghorn selecionadas de linhas vindas da Itália, do porto da cidade de Livorno – aqui no Brasil chamada de Legorne – e a Minorca, de origem inglesa mas muito selecionada em Nova Iorque. As raças de “dupla aptidão” como a Rhode Island e Plymouth Rock foram aos poucos ganhando linhas mais específicas, principalmente a Plymouth Branca que é tanto usada para corte no frangos industriais, como uma linha bem leve usada para produção de ovos na Embrapa 051 e 031.


Entretanto para que a indústria ficasse competitiva não dava mais para criar os machos das fêmeas de postura, pois para compensar financeiramente era necessário uma galinha cada vez menor, portanto, era necessário separar o sexo no dia do nascimento e descartar – sim matar – todos os machos que não forem usados para reprodução no dia do nascimento. Assustad@?!, a cada dúzia de ovos de granja você contribui para esse genocídio.


A primeira e principal técnica usa era a observação da cloaca, que implicava em erros além de ser muito cara, pois a mão de obra tinha que ser capacitada e especializada. A forma encontrada foi usar os genes ligados ao sexo. Dois genes foram e ainda são bem usados, o dourado e o empenamento.


Nas galinhas selvagens, os Bankivas, o gene selvagem é o dourado, que produz a pheomelanina, o pigmento castanho que permite desde o amarelo claro até um marrom quase preto, sua mutação – que não se sabe ao certo se mutação ou se cruzamento com outros galos selvagens, principalmente o de Sonerati – não produz a pheomelanina, ou seja o animal ao invés de ser dourado adquire um prateado no galo principalmente nas penas sexuais (pescoço, dorso e asa) e na fêmea, nas penas do corpo, ficando brancas.


O gene S, de silver em inglês, é dominante assim um galo prata SS (lembra: ZZ?) cruzado com uma galinha dourada s_ terá filhotes 100% prateado, isso porque o prata S é dominante, assim todas as fêmeas serão S_ e os machos Ss (caso tenha ficado com dúvidas recomendo a leitura dos dois posts sobre genética básica), aqui o 1 e aqui o 2.


Este gene especificamente não tem dominância completa no animal adulto, logo os galos Ss não serão totalmente prata, ficando um dourado bem claro, que terá uma gama grande variação em função de outros genes. Por hora nos atentemos apenas que os pintinhos ao nascer são diferentes ao ponto de serem separados sem muito problema.


Estes dois pintinhos da direita são e+, o gene selvagem, note que o do meio é um dourado, enquanto seu irmão da direita é um prata.

Para realizar esse cruzamento é relativamente fácil, qualquer galo vermelho, amarelo ou dourado é com absoluta certeza ss, e qualquer fêmea branca é S_, assim basta eu ter um galo dourado e uma galinha prata que saberei que seus filhos com penugem mais brancas (ou pasteis) serão machos e os mais amarelos serão fêmeas, como tudo em genética, outros genes podem interferir, como o EE (leia o post genética em cores de galinha 1) que é o preto.


Em função dessas alterações nas cores, o gene de velocidade de empenamento começou a ser usado para os cruzamentos finais, reduzindo os erros. Embora muitos pensem que só tem empenamento precoce ou empenamento lento, tem outros dois genes que podem pôr a perder toda a seleção.


O gene do Bankiva, também conhecido como selvagem é o empenamento rápido, ou precoce, k+ que é recessivo em relação aos demais genes. Nos cruzamentos se usa o k+ e o Ks, ou empenamento lento (s- Slow em inglês), que é dominante em relação ao precoce, assim da mesma forma que o prata e dourado, fêmeas empenamento lento Ks_ quando cruzadas com galos empenamento precoce kk, poderão ter suas crias sexadas no primeiro dia de vida, os machos serão empenamento lento Ksk+ e as fêmeas serão empenamento precoce k+_, não tem como ser o contrário.


Em função disso criou-se o mito de que as fêmeas têm rabo e asas maiores que os machos, o que não é sempre verdade, caso eu cruze uma fêmea empenamento precoce com machos empenamento precoces, todos nascerão empenamento precoce e terão as penas da asa e cauda do mesmo tamanho. Recomendo cautela. Para um post futuro estou fotografando pintinhos do nascimento à maturidade para podermos acompanhar essas características.


Outro cuidado com o uso desses genes é que, como já dito, há outros alelos em jogo, assim um pintinho com empenamento tardio K pode ser confundido com o empenamento lento Ks. A grande diferença é que o tardio as penas demorarão a crescer, mas podem ter a velocidade de crescimento entre primárias e secundárias variada, geralmente as secundárias ficam do mesmo tamanho que as primárias, o empenamento tardio é recessivo com relação ao empenamento lento, mas dominante em relação ao empenamento precoce, assim esse gene pode “ficar escondido” no empenamento lento e inviabilizar o cruzamento.



O quarto alelo é o gene delay, ou muito lento, é o gene mais dominante dos quatro e se caracteriza por retardar muito o crescimento das penas, assim este pintinho ao perder as penugens do nascimento não desenvolve as penas, ficando em alguns casos, todo pelado. Esse gene é muito presente nas criações caipiras e de índio gigante e em regiões muito quentes eu até recomendo sua seleção pois serão frangos/frangas que terão desempenho superior aos seus irmãos. Este franguinho da foto acima tem 40 dias, repare que ele não tem as penas do corpo com sua irmã acima.

Outra grande dificuldade em usar esse gene para sexagem é que eu só consigo ter certeza no dia do nascimento a até uns 10 dias, sendo o dia do nascimento o melhor momento. Após isso a eficácia fica prejudicada. E como não é hábito marcar os pintinhos no dia do nascimento pode haver muita mistura.


O último gene que gostaria de falar sobre é o barrado, embora não seja muito usado pela indústria (pois na indústria se usa o gene e+ e o B-barrado, se expressa melhor com ER e EE) é um gene muito conhecido e bem difundido entre nós criadores não comerciais.


O gene B (barrado) ficou bem famoso em função da raça Plymouth Rock barred, ou barrado em português, também é conhecida por carijó ou pedrês. O gene Barrado age inibindo a produção de melanina nas penas (e nos bicos e escamas de forma diferente) nas penas o processo é inibido causando umas barras nas penas, daí o nome. No bico e nas escamas das patas o processo é uniforme. Nos machos (independente se heterogênico ou homogêneo) a produção de melanina é menor, por isso é mais comum encontrarmos machos mais claros e com bicos e patas amarelas e fêmeas mais escuras e com bicos e patas achocolatadas.


Para identificar o sexo no primeiro dia, basta cruzarmos uma fêmea carijó com um galo não carijó, pode ser virtualmente qualquer cor, o que precisamos ter em mente é que o barrado inibe a produção de melanina, e se usarmos um galo com outros genes que inibem a produção de melanina pode interferir na confiabilidade do resultado, por exemplo, eu não fico confortável em usar um galo branco (seja recessivo ou dominante) nem um galo light. O melhor cruzamento, inclusive usado para produzir as galinhas de postura black rocks, é usar fêmeas Plymouth Rock Barrada com machos New Hampshire, dessa forma, todos os machos nascerão pretos com mancha (penas amarelas) na nuca e as fêmeas serão pretas ao nascer.

O gene barrado, por si só, já é autosexável, embora haja um índice grande de falhas. Os machos tendem a ter a macha na nuca maiores e mais espalhadas, enquanto as fêmeas têm essa macha melhor definida e menores. As patas também podem ajudar, a separação de preto e não preto nos dedos das fêmeas é bem definido, enquanto nos machos é menos nítida.


Para quem quer fazer qualquer cruzamento usando os genes sexuais basta selecionar machos recessivos e fêmeas dominantes, farei um exemplo usando o barrado em diversas formas de cruzamento, para saber o resultado de outro gene basta substituir o barrado pelo nome do gene. Peço alguma cautela pois como já disse inúmeras vezes, outros genes podem interferir no fenótipo e embora geneticamente esteja correto, veremos diferente no animal pela influência destes outros genes. Outros genes podem não ser possível detectar no nascimento, como o inibidor de casca marrom, ou podem nos enganar por mudarem após a puberdade, como o inibidor dermal (que geralmente faz com que apareçam fêmeas com canelas verdes/azuis no plantel.


Vamos aos cruzamentos:


  • Macho Barrado BB x fêmea não barrada b_

  • 100% machos barrados SF (SF=fator simples, ou heterozigoto)

  • 100% fêmeas barradas;


  • Macho não barrado bb x fêmea barrada B_ (pintos sexáveis)

  • 100% machos barrados SF (SF=fator simples, ou heterozigoto)

  • 100% fêmeas não barradas


  • Macho barrado Bb x fêmeas não barradas b_

  • 50% machos barrados SF (SF=fator simples, ou heterozigoto)

  • 50% machos não barrados

  • 50% fêmeas barradas

  • 50% fêmeas não barradas


  • Macho barrado Bb x fêmeas barradas B_

  • 50% machos barrados SF (SF=fator simples, ou heterozigoto)

  • 50% machos barrados FD (Fator duplo, ou puro, ou homozigoto)

  • 50% fêmeas barradas

  • 50% fêmeas não barradas


É isso, os genes ligados ao sexo são verdadeiros enigmas para quem está começando com genética, mas depois se tornam ótimas ferramentas para seleção, pois ajudam de diversas formas.


Segue a tabela com os genes ligados ao sexo

Obrigado pela leitura, em breve outros posts sobre genética.


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