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Cruzamento consanguíneo – Uma faca de dois gumes.

A genética é a área da avicultura que mais me fascina e que mais me atrai. Sanidade é um tema diário e corriqueiro, também muito importante, assim como nutrição, gestão, etc, etc. Mas não haveria raça, melhoramento zootécnico e a moderna avicultura (e outras atividades agrárias) se não houvesse a compreensão da genética. Desde a redescoberta das leis de Mendel, no início do século passado a produção animal e vegetal avançou a velocidades nunca vista antes. Só de 1900 a 1930, início do uso do conhecimento em genética, a avicultura avançou mais que toda a sua história de milhares de anos.


Mas genética é um assunto complicado, é necessário tanto a compreensão da genética molecular – dentro das células – quanto a genética de populações, que é o que percebemos em nossos planteis. Sem falar que há um abismo entre o que chamamos de teoria e a prática. Uma coisa é ler artigos como este, outra coisa é identificar os genes em suas aves ou outros animais.


E ainda nem falei que são milhares de genes, que um interfere na expressão do outro, que um gene causa duas ou mais expressões e por aí vai.


Por que estou dizendo isso? Porque essa grande dificuldade em compreender genética é a causa da expressão acima, no título. “uma faca de dois gumes”. A única coisa que serve essa expressão é nos mostrar quem não está familiarizado com a genética. Se consanguinidade é uma faca de dois gumes, significa que é uma faca de corta melhor.


Não há, em toda a história animal, uma única raça que não tenha sido formada com o uso da consanguinidade. Consanguinidade é uma ferramenta importante e sem ela estamos fadados ao fracasso. Ainda em tempos modernos.


Mas por que essa frase ficou tão famosa? Porque a consanguinidade aumenta a proporção de homozigose, e os genes deletérios são homozigotos. Com isso, quem não sabe como selecionar tende a produzir animais mais fracos.

Explico melhor:


Animais com crista Rosa tem o gene R, animais sem a crista Rosa tem o gene r. Como a característica é dominante basta um gene (herdado do pai ou da mãe) para a ave ser crista Rosa. Assim, animais RR ou Rr serão crista Rosa, enquanto animais rr serão crista Serra. Se cruzarmos um animal crista Rosa RR com um crista Serra rr, não parentes e não consanguíneos teremos 100% da cria Rr, ou seja, heterozigotos. Quando cruzamos dois animais heterozigotos e com o mesmo fenótipo (visual), que é a crista Rosa, teremos 25% RR, 50% Rr e 25% rr.


Assim, um cruzamento entre animais “distantes” produz 100% animais hetorizotos, a princípio sem parentesco em seus antepassados (Percebam que citei o gene R como exemplo. Estamos falando de milhares e milhares de genes). Quando cruzamos esses animais entre si – consanguinidade – teremos 50% heterozigoto, 50% homozigoto, assim, a metade será de genes iguais. E isso ocorre em todos os genes da ave, que são dezena de milhares de genes. Basta um par de gene ser deletério (como acontece com o gene R).


Galos Rr, crista Rosa produz espermatozoides normalmente, porém galos RR, também crista Rosa produz espermatozoides com problemas de mobilidade, reduzindo em até 15% a eclosão em função do embrião morrer um pouco antes de nascer.


Consanguinidade aumenta a homozigoze, a homozigose aumenta a probabilidade de gene deletérios agirem, logo a consanguinidade aumenta a mortalidade e outros problemas ligados a fertilidade, a Eclodibilidade e a viabilidade. Isso ocorre em outros genes, como o brinco das Araucanas, o pompom dos marrecos, topete dos canários e outros tantos, além de alguns genes recessivos que não produz expressão visual, mas causam problemas fisiológicos.






Mas então a frase está certa? Vocês devem estar se perguntando” Não, não está. A consanguinidade só aumenta os genes que o criador permitir. Pro isso fazemos seleção – quando fazemos – e não escolha ao acaso. Se você sabe o que está fazendo, não haverá problemas, se não souber, bem tanto faz consanguinidade ou não.



Para aprofundarmos mais um pouco no assunto, há dois termos genéticos que nos ajudam a compreender melhor essa questão da homozigose que é Alozigotos e Autozigotos.


Alozigotos é quando os alelos (cada um dos genes R no caso da crista Rosa) não são idênticos, ou seja, não pertencem a um descendente comum. Um bisavô, por exemplo.


Autozigotos é justamente o contrário, quando os alelos são idênticos e, portanto possuem a mesma origem.

Endogamia produz mais autozigotos e são mais propícios a terem o mesmo gene defeituoso ou deletério. No caso do gene R (embora tenha dois tipos) não fará diferença na mobilidade dos espermatozoides, porem, outros genes sim.


Um gene deletério, dominante ou recessivo, surge sempre por mutação genética, quando o gene é dominante e visual é possível o criador perceber e retirar os animais com os genes deletérios ou ainda executar somente cruzamentos com animais recessivos. Assim é possível manter o padrão em metade dos animais (vide E-book Araucana distribuído pela Chácara Dornas) no caso o gene do brinco, 100% letal em homozigose.


Quando o gene deletério é recessivo ou não visual, é impossível de ser determinado sem a análise – teste de progênie – ou quando o problema é percebido no plantel, assim precisamos estudar a carga genética. A carga genética são justamente esses alelos recessivos altamente deletérios que permanecem no plantel justamente por serem raros.


Entretanto, quando fazemos cruzamentos entre parentes, a probabilidade de surgirem homozigotos autozigotos aumenta e com isso aumenta a probabilidade de um animal homozigoto expressar o gene deletério – geralmente morte embrionária.


Quando esses genes deletérios recessivos não são fatais a sua presença pode reduzir o vigor desse animal, reduzindo seu desempenho zootécnico. À essa situação chamamos de depressão endogâmica, ou seja, há uma redução – depressão – do desempenho animal em função da endogamia.


“Eu não disse que endogamia é uma faca de dois gumes?” devem estar se perguntando os mais descrentes. Minha resposta seria: “Se não houvesse seleção sim”, por quê? Porque ao selecionarmos os progenitores da próxima geração lançamos mão de ferramentas que nos permitem escolher os melhores reprodutores e as melhores matrizes. Essas ferramentas são desde um controle de pedigree até o uso de teste de progênie para a escolha dos melhores animais.



Nada mais comum que ter apenas um animal com o gene que gostaria e não ter como passar para frente por falta de parceiro com o mesmo gene. Normalmente cruzamos esses animais com outros o mais parecido possível e assim que temos seus filhos, cruzamos entre si, ou pais com filhas e mãe com filhos. Como vimos aumentaremos a endogamia.


O segredo é o descarte. Fuja da tentação de ficar com todos os filhos, escolha os mais fortes e saudáveis e siga com esses. Às vezes é mais demorado, mais é mais eficiente.


Genes como o R, da crista Rosa afeta a fertilidade e a eclodibilidade. O gene do brinco afeta a eclodibilidade. Ou a condrodisplasia nas aves. São genes ou desejáveis ou não percebíveis e que podem prejudicar o desempenho do plantel como um todo.


Anote os cruzamentos, faça uso de anilhas ou outros marcadores para saber quem são os pais e caso apareça algum problema ou algum aumento de mortalidade embrionária ou logo após o nascimento, desconfie tente fazer outros cruzamentos para ter certeza e se for o caso, descarte os pais. Estude e pesquise bastante.


O uso de endogamia é obrigatório para quem cria raças puras, o que temos que evitar, por exemplo, é ter apenas um macho no plantel. Muitos criadores têm baias com um terno, ou um grupo de 5 a 6 fêmeas com um único galo, a seleção da próxima geração será novamente com um galo e por aí vai. Chegará um ponto que muitos dos genes serão autozigotos e pipocará defeitos no plantel, muitos silenciosos e que nos deixarão sem saber o que fazer.


Antes de decidir qual raça, analise quantos criadores dessa raça existem, veja quais as possiblidades, dentro do seu orçamento, de comprar animais de fora e dar um choque de sangue (nosso próximo artigo). Se as possiblidades foram pequenas, a sugestão é escolher outra raça, ou conviver com os problemas da endogamia e sair dizendo por aí: “consanguinidade é uma faca de dois gumes”.


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