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Autossuficiência em alimentação animal – 4

Produção de folhas


Em um processo de produção linear estamos fadados a compra de insumos e o dinheiro dessa compra deveria vir da própria produção. Como não conseguimos colocar o preço em nossos produtos (o mercado que o faz) precisamos vender pelo preço que estiver e novamente comprar pelo preço de mercado. O produtor é um mero tomador de preço. E nem sempre essa conta fecha.




Precisamos criar meios de “arredondar” esse processo – e é isso que estamos fazendo aqui J.


A partir deste artigo, vamos cada vez mais fechar o ciclo, até que nossa produção se torne uma produção de ciclo fechado, ou uma economia circular.



No exemplo ao lado – simples e reduzido e sem as inúmeras inter-relações – a galinha irá produzir esterco para o sistema – e nós iremos tirar ovos e carne. O esterco será usado para compostagem e produção de minhocas, as minhocas viram alimento para as galinhas e o composto vira adubo para os vegetais, os vegetais irão produzir alimento para as galinhas e para os insetos comestíveis, que por sua vez irá produzir dejetos para as plantas e comida para as galinhas. Sol, chuva, CO2 e O2 são livres entrando e saindo e permitindo todo o fluxo.


Neste artigo vamos falar da produção de vegetais, mais especificamente da produção de tubérculos e suas folhas. E como base para a produção, iremos usar o esterco dos galinheiros.


Quantos “tipos de estercos” você acha que uma produção de aves produz? Pergunta interessante. Diferentemente dos porcos – e ovelhas, vacas, etc. – as galinhas possui estratégias de criação bem distinta de acordo com as fases de vida.


Se você tem menos de 50 pintinhos por lote, aconselho a cria-los em baterias/gaiolas, esse cuidado trás melhores resultados que pintinhos no chão. E se assim for, o esterco dos pintinhos é fácil de pegar, necessita de pouco material para a cama e contém uma grande quantidade de ração desperdiçada. É um esterco muito rico em nutrientes e a depender do lote esse esterco pode ser usado para dar aos porcos – sério. É um tipo de esterco que costumo usar para produção de insetos comestíveis e, portanto uso muito pouco para plantas.


Outro tipo de esterco é o esterco abaixo dos poleiros. Em sistema extensivos ou semi-intensivo as aves dormem em poleiros e o esterco acumulado abaixo dos poleiros tem pouca cama com relação ao esterco em si. É um esterco muito bom também para produzir insetos (mosca) e muito bom para curtir e produzir minhocas.


O esterco do galpão/galinheiro tem – deve ter – uma quantidade grande de cama, seja casca de arroz, palhas ou maravalha, ou seja, tem uma relação carbono:nitrogênio fraca. Quanto mais nitrogênio, mais forte ou mais rico.


Esse esterco é muito bom para plantas, ele perde temperatura mais rápido, não atrai tantas moscas e outros insetos e pode até ser jogado “verde” no canteiro ou vaso. Tome bastante cuidado, pois pode “queimar” as plantas. Novamente, no e-book completo explico como usar esterco verde sem queimar as plantas.


Esse esterco eu guardo em sacos de ração e deixo em local sem sol ou que não molhe até seu uso, esse processo acaba por compostar de forma incompleta com o tempo, eu uso no período chuvoso basicamente.


Caso esteja desconfortável, pode fazer a compostagem dele, inclusive incluindo mais material orgânico rico em carbono (folhas secas).


Não falaremos aqui da produção de forragem hidropônica, já falamos alguma coisa no artigo n°3 e falaremos mais, mais adiante. O propósito aqui é falar de folhas de batata doce basicamente.


Se você tem uma área grande, levemente inclinada o processo fica muito fácil. Abra sulcos de cerca de 30 cm de profundidade, coloque o esterco dois litros por metro linear são suficientes, eu coloco bem mais. Misture este esterco com um pouco de terra, volte a terra para o sulco – deve ficar mais alto um pouco – e plante as ramas de batata doce com uma distância de cerca de 40 cm.


Caso não tenha as ramas é muito fácil, compre uma batata doce média, coloque em um vaso aberto com um pouco de areia até a metade da batata, mantenha úmido. A batata irá soltar as ramas, quando as ramas tiverem com quatro ou mais folhas, quebre na base e plante em um vaso com areia e um pouquinho de esterco. Pronto, você terá uma quantidade quase ilimitada de ramas, corte os talos entre as folhas e enterre nos sulcos adubados deixando parte da folha para fora.


Após cerca de 2 meses você terá bastante folha, deixe cerca de 10 cm da terra e corte todas as folhas, as folhas recém cortadas podem ser fornecida aos animais de imediato, não precisa fazer um pré-murchamento nem nada. O primeiro corte produz menos folhas e talos, a partir do segundo a produção é maior, divida a quantidade produzida em oito ou nove partes e corte uma parte por semana, quando acabar a última a primeira já terá sido reestabelecida e poderá sofrer novo corte.


Na ocasião do terceiro corte arranque as batatas. Se você plantou no solo no início das chuvas, o terceiro corte irá coincidir com o final da estação chuvosa. Guarde as batatas para alimentar os animais ou para consumo familiar. Ou ambos.


Note que a cada corte das ramas as batatas irão retirar nutrientes dos tubérculos, portanto a produção de batata é muito inferior à uma produção onde as ramas não são arrancadas, mas nossa intenção é a rama e não exatamente a batata.


Além da batata doce de quaisquer variedades você pode usar a batata inglesa, as ramas são comestíveis, mas as galinhas não gostam tanto, os porcos sim.


Aqui cultivamos batata doce branca e vermelha e batata inglesa vermelha. Além das batatas pode ser cultivado mandiocas (aipim ou macaxeira) mansa, no caso das mandiocas eu forneço as ramas na ocasião do arranque, também verdes, logo após o corte. Quando tem muita faço uma farinha, mas ultimamente não anda compensando, e pensando na hipótese de se livrar da ração conforme conhecemos, pode fornecer a rama verde mesmo.


Na época da seca, o chão fica muito seco – aqui é cascalho com cinco meses sem uma gota de água e umidade inferior a 10% - não arrisco irrigar, é necessário muita água, então eu planto em vasos, você pode plantar em vasos o ano todo, a produção é levemente inferior (não pesei), mas a depender do desafio (galinha fugindo por exemplo) os vaso resolvem bem.


Para plantar em vaso siga esses passos:


1 – Fure o vaso:

Se você tiver condições de irrigar todos os dias faça bons furos na parte de baixo dos vasos, se a irrigação puder faltar, fure a altura de um terço do vaso. Vasos muito pequenos 20 cm diâmetro por 20 cm de altura não dão bons resultados, vasos maiores são melhores, estou usando vasos com 40 cm de diâmetro e 30 cm de altura e dá bons resultados para batata doce e inglesa, outra opção ainda melhor é fazer círculos de flange (material para calhas e rufos) fiz um com 1,2 metros de diâmetro e 50 cm de altura, planto cerca de nove ramas de batata e fica muito bom. No caso da flange não há o que furar, então cuide da irrigação.


2 – Faça um bom substrato:

Batatas e outras raízes gostam de solo fofo, arejado e macio. Eu faço um preparo padrão de terra adubada que é uma parte de cinzas/carvão, na verdade é resto de fogueira e churrasqueira, uma parte de esterco, que pode ser o esterco verde e duas partes de terra. No caso das raízes e tubérculos eu coloco cerca da metade ou mais do volume total de folhas secas bem amassadas, e intercalo em camadas folhas > terra > folhas > terra, quantas quiser, não misturo. Depois de uns dias o substrato afunda, vou completando até perto da boca, apenas para a água não derramar. Caso o esterco esteja muito verde e estiver atraindo moscas, coloque uma camada de uns 3 cm de terra por cima de tudo.


3 – Plante as ramas:

As ramas devem ficar a uma distância de cerca de 40 cm uma das outras, assim, se for um vaso menor, será apenas uma rama no vaso. O melhor é plantar as ramas já com raiz, pois acelera o processo, entretanto, caso não tenha feito com antecedência, pode plantar como na cova, somente os ramos com folhas.


4 – Irrigue:

Como já falado, se tiver como irrigar todos os dias, faça. Caso não seja possível irrigue bem a cada dois ou três dias, até que saia água pelos furos, se tiver condições de colocar um gotejador em cada vaso melhor ainda. Na ocasião do corte das ramas, não irrigue antes do corte, irrigue com abundância após o corte e neste momento pode fazer um reforço de esterco, se espalhar bem pode ser o verde, cubra com palha seca se o nível estiver abaixado.


5 – Corte as ramas:

Como também já falado corte a cada dois meses, é tempo suficiente para que novas ramas surjam bem vigorosas e cheias de proteínas e vitaminas. Tenha vasos em quantidade múltiplos de nove, assim poderá cortar as ramas de cada grupo semanalmente.


Todo o processo vale para todos os tipos de batatas. Entretanto, as batatas doces tem melhor aceitação.


Quando e quanto oferecer de batatas e manivas (ramas de mandiocas)?


As galinhas devem receber verdes duas a três vezes por semana, e embora não tenha uma regra muito clara (no último artigo irei fornecer um menu semanal) uma fonte constante de verde garante gemas e pele bem amarelas. Os porcos não tem esse cuidado, então forneça apenas de forma regular, duas vezes por semana já é suficiente.


Vai colher mandioca? Jogue as manivas e nessa semana não forneça as ramas de batata. Use o bom senso sem restrição.


As ramas – batata e mandioca – tem cerca de 25% de proteína bruta e embora não seja uma proteína de fácil digestão para os monogástricos é uma boa fonte.


Além das batatas e mandiocas, tenha uma ou duas touceiras de banana de qualquer qualidade para fornecer as folhas. Eu forneço as folhas de bananeira como uma ajuda ao vermífugo (não substitui) além de ser um lanchinho sempre bem vindo.


As folhas quando começam a amarelar e a rasgar reduz a capacidade de fotossínteses, estão morrendo, nesse momento eu corto com cuidado para não desfiar o pseudocaule e jogo para os frangos, galinhas raramente comem, às vezes quando corto o pé para tirar o cacho daí tem mais folhas, fora isso a preferência é dos frangos e porquinhos.


Folhas de seriguela são também muito bem aceitas pelas aves – e adorada pelos coelhos e preás – se tiver boa quantidade forneça sem restrição.


Voltando aos vasos.


Após a retirada das batatas e novo plantio – cuidado para não ficar com pouca rama, lembre-se que o primeiro corte é mais fraco, se puder tenha mais vasos -use a terra do vaso como parte do substrato, adicionando uma parte de carvão e outra de esterco para cada duas partes dessa terra, com o tempo, terá menos terra e mais matéria orgânica, potencializando a produção.


Há uma relação interessante entre a quantidade de esterco produzido e a quantidade de esterco necessário para o cultivo dos vasos – não só das batatas. Se usarmos apenas este esterco rico em carbono para a produção vegetal usaremos quase todo o esterco produzido pelas aves, afinal, mais aves, mais esterco e maior necessidade de produção de folhas. Basicamente eliminamos um tipo de poluidor, sem produzir mau cheiro.


E aí? Já forneceu folhas de batata doce aos animais, todos eles vão gostar muito. E a gema então, amarelinha. Que tal aproveitar o resto do final de semana e fazer um ou dois vasos, seus animais vão agradecer.


Semana que vem falaremos de outras possibilidade de uso do esterco para produção de alimento para seus animais.


Por hora ainda não comam todas as batatas, será uma excelente fonte de caloria e energia. Será que pode colocar junto aos grãos no fermentado? Ou devo fornecer direto ás aves? Pode crua?


Aguardem e até a próxima.

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