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Autossuficiência em alimentação animal – 3

Germinação de grãos e sementes

Chegando agora? Leia o 1° artigo aqui e o 2° aqui.


No processo de fermentação, os grãos se enchem de água e acontece um processo metabólico em seu interior, além disso, há uma multiplicação de bactérias e leveduras benéficas ao animal, que além de consumir os nutrientes do grão alteram sua composição nutricional³. As fases I e II são comuns às duas alternativas (fermentação e germinação).


A fase III, que dificilmente ocorre na fermentação em função da ausência de oxigênio e das mudanças químicas no meio, principalmente no pH, é associada com um alongamento do grão e o preparo da germinação, nesse momento as sementes restauram sua atividade metabólica que implica em importantes mudanças bioquímicas, sensoriais e nutricionais.


Incluirei aqui no artigo “germinação” tanto o processo de germinação em si, quanto o processo de produção de forragens hidropônicas*4.


A germinação trata apenas do processo de inicio da formação da planta e finaliza apenas com a ponta da raiz saindo do grão.


A Forragem hidropônica trata da produção de folhas, sem a adição de nutrientes na água como ocorre na produção de vegetais hidropônicos. Aqui, apenas os ingredientes contidos no grão serão responsáveis pelo desenvolvimento tanto do sistema radicular quanto foliar, até que a folha atinja cerca de sete centímetros, no caso do milho, eu uso basicamente o milho e o sorgo para germinação e produção de forragens, outros grãos são muito caros e acabam não compensando. E mesmo no processo de produção autossustentável, a produção de outros grãos é mais difícil. Em outros artigos falarei da aveia, que tive até bons resultados, mas quando comparados com milho/sorgo o ganho por área é inferior. Portanto, permaneci em grãos mais produtivos.


O fornecimento de grãos germinados aos animais trás benefícios nutricionais semelhantes á fermentação, há uma redução significativa dos agentes antinutricionais, uma melhoria na qualidade das proteínas – embora possa haver a redução em percentual da matéria seca, como já tratado no 2° artigo sobre fermentação. Entretanto, há uma desvantagem quando comparamos fermentação com germinação, no processo de germinação não há a produção considerável de bactérias e leveduras benéficas, que irão agir como probióticos, a grande vantagem é que algumas pesquisas mostram que há uma melhoria significativa das proteínas – e aminoácidos – dos grãos germinados tanto quando comparamos aos grãos secos quanto aos grãos fermentados.



Percebi que os porcos preferem o sabor dos grãos fermentados, enquanto as galinhas preferem os grãos germinados. Os coelhos adoram os grãos germinados (não forneci o fermentado para eles em quantidades suficientes para averiguar preferências), entretanto, coelhos e preás são aficionados por forragem hidropônica.


Para a produção dos grãos germinados basta seguir estes passos:



1 – Encharcamento:

Coloque os grãos em um balde (ou outra vasilha) submerso em água limpa, aqui pode ter cloro, por 12 a 24 horas;


2 – Limpeza:

Após essa primeira fase, escorra a água – ou troque de vasilha – e deixe os grãos descansar ainda úmidos, sem substrato sem nada e pode ser tanto no escuro quanto no claro;


3 – Irrigação:

A irrigação deve ser feita a cada 12 horas ou mais frequente se o clima estiver muito seco, umedeça a vasilha, permitindo que todos os grãos tenham contato com a umidade;


4 – Colheita:

A colheita deve ser feita quando estiver iniciado o processo de germinação, a partir do 3° dia já poderá surgir o botão da raiz, a partir deste momento já pode ministrar aos animais. Caso deseje esperar um pouco mais os grãos deve ser colocados em local iluminado para não produzir fungos. Para porcos e galinhas recomendo fornecer antes do início do surgimento da folha.


Caso espere muito tempo as folhas irão começar a crescer, nesse momento acaba o processo de germinação propriamente dito e inicia o processo e crescimento da planta, o que chamarei de produção de forragem hidropônica4.


A produção de forragem hidropônica tem a vantagem de aumentar significativamente a quantidade de alimento – em função do aumento de água, portanto não a quantidade de nutrientes – todos os agentes antinutricionais são eliminados dos grãos e há uma melhoria na digestibilidade das proteínas, entretanto, os carboidratos não fibrosos (amido) começam a se tornar carboidratos fibrosos (folhas) de espetacular digestibilidade, embora bem menos que o amido, perde-se calorias.


A energia da forragem é inferior à energia do grão, e também se perde proteínas. A grande vantagem da forragem está na melhoria das vitaminas e aminoácidos e principalmente, no caso das aves, da produção de beta caroteno, um precursor da vitamina A e que melhora a coloração da gema e pele. Muito melhor – e infinitamente mais barato – que beterraba ou cenoura.


A produção de forragem se justifica consideravelmente em épocas secas onde não há possibilidades de produção de capim para as aves ou onde não há espaço para a formação de capineiras.


O processo de produção não é difícil, embora possa haver muitas perdas se feito de forma errada. Primeiramente eu desaconselho fazer no chão, sobre lonas, ou ainda em piso. Em locais muito grandes é difícil controlar a umidade e pode haver diferenças significativas no desenvolvimento que poderia por a perde todo o trabalho – ou pior: aumentar o trabalho com separação de grãos não germinados adequadamente dos grãos bem germinados.


Aqui na Chácara Dornas Homestead produzimos forragens hidropônicas em badejas de misturar cimento. São de tamanho ideal para manusear sozinho, podem ser mudadas de local de forma fácil, são baratas e muito resistentes. Para usá-las basta fazer alguns furos no fundo para que o excesso de água escorra. Use brocas de 3,5 ou 4 mm, mais que isso pode-se perder grãos ou a água pode escorrer muito rápido. Faça furos com distância entre eles de 3 a 5 cm.


Para iniciar seu processo de produção de forragens pode fazer da forma que indicamos para a produção do grão germinado acima e a partir do terceiro passo mudar para as bandejas de crescimento.


As bandejas de crescimento devem ficar viradas para o leste para que pegue o sol da manhã e não pegue o sol da tarde. Se sua região for muito quente e tiver incidência alta de radiação UV use sombrite.


Para a produção da forragem basta seguir estes passos:


1 – Encharcamento:

Coloque os grãos em um balde (ou outra vasilha) submerso em água limpa, aqui pode ter cloro, por 12 a 24 horas;


2 – Distribuição na bandeja:

Em local com incidência solar matutina coloque as bandejas levemente inclinadas para o leste, essa inclinação é para facilitar a passagem da água e não formar pequenas poças que possam apodrecer o grão. Se tiver pássaros que possam comer os grãos coloque uma proteção, não se preocupe com a falta de sol nos primeiros dias;


3 – Irrigação:

Da mesma forma que a geminação, a irrigação deve ser feita duas vezes por dia ou até mais, é importante que os grãos permaneçam úmidos e não ensopados durante a germinação;

A geminação deverá ocorrer até o terceiro dia, locais mais frios e secos atrasam e locais mais quentes e úmidos adiantam.

Após a germinação mantenha a luz solar presente;


4 – Desenvolvimento foliar:

No quarto ou quinto dia já perceberá as folhas se formando e indo em direção à luz. A irrigação continuará a cada 12 horas, só tenha atenção, pois o sistema radicular entope alguns dos furos, caso esteja percebendo encharcamento sacuda a bandeja para reorganizar os grãos, você perceberá que quanto mais folhas, mais água será necessário, tanto pela necessidade da planta em função do crescimento e transpiração, quanto pelo encharcamento natural na região da raiz. NÃO permita poças.


5 – Colheita:

Aqui vale muito a capacidade de análise e observação. Não estamos fornecendo nutriente ao grão, portanto, quando cessar os nutrientes do grão a planta morrerá, em ambientes ideais de umidade, temperatura e luminosidade a forragem poderá ser colhida com sete dias, e aproximadamente uns sete centímetros de folha, no caso do milho e da aveia, o sorgo fica menor e mais encorpado. Se as folhas estiverem querendo amarelar (e não for doença) forneça imediatamente aos animais, mas não deixe passar muito dos sete dias, pois a planta irá se consumir para sobreviver, e isso reduzirá seus nutrientes.



É importante frisar que até essa idade a planta não consegue fazer fotossíntese com eficiência para transformar CO² da atmosfera e luz solar em energia, portanto não há uma produção de nutrientes (como já falamos), assim após esse período ela morre.


Os grãos germinados têm mais nutrientes que as forragens, então se não for para suprir a necessidade de verde, sugiro não passar da germinação para o crescimento foliar, na época de chuvas mantenha uma bandeja para presentear suas aves ou porcos e foque na produção do germinado, na época seca pode pensar em produzir mais forragem.


Há vários vídeos ensinando como fazer a forragem hidropônica – e em breve o nosso também J – só que nos vídeos que assisti, a grande maioria coloca um substrato, uma palha ou algo similar, outros colocam algum esterco e chamam de semi-hidropônico. No futuro pretendo fazer um artigo em separado para explicar melhor como usar esses substratos e até o esterco para maximizar a produção. Por hora, sugiro não colocar nenhum substrato, pois com substrato há uma perca de consumo em função das raízes ficarem “presas” em algo não comestível.




Até aqui falei que é possível produzir – do zero – 100% da alimentação dos nossos animais, – embora ainda seja um pequeno suspense todo o processo – a utilização de grãos para fermentar, germinar ou produzir forragens é apenas uma forma de melhorar a qualidade da alimentação que fornecemos, ainda em teoria, estamos comprando esses grãos. Melhoramos o processo de alimentação, economizamos (acredita-se 25%), mas ainda estamos dependentes da compra dos insumos. A partir do próximo post iremos ver como reciclar nossa produção, começaremos a sair de um modelo linear para um modelo circular de produção. Aguardem.


E se estiverem gostando convido a deixar seus comentários em nossa página do facebook, onde concentramos todas as postagens – blog e vídeo – que tal nos visitar? facebook.com/chacaradornas. Te aguardo lá.






3 – no e-book completo “como produzir 100% da alimentação de seus animais” contém as tabelas nutricionais comparativas e uma descrição dos processos fisiológicos completos. O lançamento do e-book está previsto para março, após a última parte de esta série gratuita ser publicada.

4 – Faço o reforço da ressalva de que não e uma produção hidropônica tradicional. Não há o fornecimento de fertilizantes via água de irrigação. Esse processo é o mesmo para a produção de brotos de feijão.

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