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Acasalamento em Gallus gallus II

No post anterior falamos de acasalamento e discutimos sobre as principais formas de cruzamento que existem, quais são melhores indicados às galinhas e quais não são.

Aqui falaremos do cruzamento simples, ele é a base para todos os outros e perfeitamente possível de ser feito em qualquer criação, independentemente do tamanho do plantel ou do espaço.

Antes, vamos entender melhor a seleção, que nada mais é que escolher quem irá reproduzir e quem não irá. De forma bem simples temos duas formas de seleção de animais para reprodução, classificatória e eliminatória. Como o nome diz, inicialmente é feito uma eliminação dos animais que não possuem as características necessárias ao nosso propósito – caso não tenha lido o post I, clique aqui e leia antes de prosseguir, ok? – Essas características poderão ser qualitativas e/ou quantitativas. Uma vez descartados todos os animais que não possuem as características desejadas, ou ainda que possuam características indesejadas, passamos para a classificação. Se atentem que descartar ou eliminar não é sacrificar, é apenas não escolher para reprodutor ou matriz.

A classificação é o ranqueamento dos animais seguindo algum padrão, que pode ser o que adotamos na Dornas Homestead, explicado posteriormente, ou ainda pode ser criado o padrão do seu próprio plantel. O importante é ter de forma clara e sempre à mão quais são os melhores animais, separado por sexo.

Os critérios para seleção dos animais e a definição de qual cruzamentos escolher depende das características qualitativas e quantitativas que se quer selecionar ou melhorar. As características, se qualitativa ou quantitativa, são muito diferentes umas das outras e interfere no planejamento do cruzamento, e por isso é preciso entender muito bem suas diferenças. No post genética básica, que você lê clicando aqui, falamos das duas primeiras leis de Mendel, que diz respeito às características qualitativas. Essas características dão qualidade ao animal, que pode ser tipo de crista, cor de pena ou pele, quantidade de dedos ou até tipo sanguíneo. Na prática, se for possível separar os animais em lotes precisos (empenamento precoce ou empenamento lento, ou ainda frisada de não frisada) estamos tratando de características qualitativas.

As características quantitativas já são mais difíceis de serem separadas, isso porque quando estamos tratando de quantidade a distribuição de lotes é quase infinita, como por exemplo peso de animais, embora podemos dividir os animais em: até um quilo e mais de um quilo, é virtualmente impossível separar dois animais com o mesmo peso, ou mesma altura ou produção de ovos, e por aí vai, sempre teremos uma fração de gramas, ou milímetros ou outra medida que se difere. Essas características geralmente envolvem uma grande quantidade de genes e seu padrão não é preciso. Geralmente as características produtivas são quantitativas.

A título de exemplo vamos imaginar que adquirimos um lote fechado de galinhas caipiras, tem de tudo. Nosso objetivo é produzir um frango que ultrapasse os dois quilos aos 90 dias de idade, que seja preto com canela preta e com crista tipo bola.

Nossa primeira ação será selecionar todos os animais pretos com canela preta e crista bola. Essas são características qualitativas e são mais fáceis de selecionar, depois de separado os animais com essas características e já tiver a quantidade de animais suficiente para minha produção eu descarto o restante. Uma vez selecionado as características qualitativas (preciso claro conhecer o padrão de herança dessas características, aguardem novos posts) faz-se-ar um ranqueamento do peso dos animais – daí a importância de separar por sexo, pois uma fêmea de 2,6 Kg pode ser melhor que um macho de 2,8 Kg e num ranking único esse macho terá mais pontos que a fêmea. Faz-se uma pesagem e enumera os animais, do mais pesado ao mais leve, novamente, os animais muito leves serão descartados e a depender do objetivo, os muito pesados também.

Essa seleção é fundamental, mas não é suficiente, pois a princípio, suas crias serão a média dos pais, não teremos muitas melhorias e até aqui seria apenas acasalamentos. Para uma seleção das características qualitativas está tudo certo, descarto quem nascer com características que não quero, escolho quem nascer com que quero e pronto, no máximo um teste de progênie para acelerar ou garantir o resultado. Pronto! Mas, e o peso?

Cruzamentos são perfeitos para melhorar o padrão das características quantitativas, pois aqui eu aproveito a heterose. Heterose é quando a média das crias ultrapassa a média dos pais. No caso do peso, supomos que neste plantel do exemplo, os frangos alcançam 1,7Kg aos 90 dias, se eu cruzo animais com alguma consanguinidade a tendência é esse peso se manter ou ter pequenas variações, para cima ou para baixo, porém ao cruzar animais distantes geneticamente eu tenho um ganho na característica selecionada, fazendo com que os frangos ultrapassem os 1,7 Kg do plantel de reprodutores. Alguns criadores chamam a heterose de choque de sangue. Mas não é simplesmente cruzar animais distantes para se ter a heterose, é preciso fazer o cruzamento certo para tal. Além da heterose, ao fazer cruzamentos de linhas (ou raças) diferentes também ganhamos ao poder selecionar diversas características ao mesmo tempo, pois algumas são antagônicas, ou seja, interferem no desempenho uma da outra. A mais clássica na avicultura é o ganho de peso e produção de ovos. Sempre que selecionamos para produção de ovos, perdemos em ganho de peso, e vice-versa. Então como produzir muitos ovos para ter muitos pintinhos de caipira bem pesado?

Ao separarmos nosso plantel em dois (linha fêmea e linha machos, por exemplo) conseguimos fazer seleção distinta e ainda ganhar na heterose. Dentro do nosso objetivo do produto final (frango com 2,0Kg) precisamos definir outros objetivos, que chamaremos de secundário, como quantidade de animais que queremos, se o foco for comercialização o quanto esse peso vai impactar no meu negócio, desempenho reprodutivo, ganho de peso diário, conversão alimentar, etc. No início escolha um ou poucos, depois vá aumentando os critérios. Como exemplo, vamos nos ater a três critérios:


1 – Peso aos 90 dias

2 – Conversão alimentar

3 – Índice de postura


Aqui na Dornas Homestead fazemos utilizamos essa metodologia para seleção dos futuros reprodutores.


O próximo passo é definir importância para cada linha e dar notas, aqui as notas vão de 0 a 1:



Percebam que o peso das notas vai variar de acordo com a linha, no caso de características não avaliáveis, como o índice de postura nos machos, a seleção é em função do desempenho da mãe, mas poderia ser das irmãs se fossem do mesmo galo e galinha.

Esses indicadores vão me nortear no que observar durante a seleção dos animais de cada linha, daí dois animais com o mesmo ganho de peso, mas um filho de uma galinha de alta produção e outro de um lote com bom índice de conversão alimentar terão desempenhos diferentes em casa lote, o pedigree fica assim:



*Percentual do desempenho (índice/desempenho), na conversão alimentar quanto maior o desempenho pior o resultado.


Veja que embora ambos tivessem o mesmo resultado no peso aos 90 dias, o macho N°456 teve desempenho melhor porque teve notas maiores em características mais desejadas para sua linha (macho).

Uma vez feito a divisão dos lotes e iniciado a seleção, não se mistura mais os animais dos dois lotes, cuidados com endogamia devem ser tomados, mas nunca misturando os lotes ou trazendo os mesmos animais de fora para ambos os planteis.

A escolha das características de cada linha não deve negligenciar a característica principal que é o ganho de peso, as duas linhas deverão ser selecionadas para isso, por isso nota alta neste critério nas duas linhas. A partir do momento em que fomos “distanciando” as duas linhas, ou seja, selecionando apenas os melhores animais dentro desta linha, estamos favorecendo a heterose.


Reforço: Não é simplesmente pegar dois animais de raças/linhas diferentes, é primordial que estas linhas estejam sendo selecionadas para a característica desejada. Cruzar uma Leghorn com um Cornish não vai trazer heterose para nada, sairá um animal sem seleção alguma.


Agora sim, chegamos ao final de um esquema tão simples.





Quando enfim cruzamos a raça (ou linha) A com a B.

Recordem que se não for feita toda uma seleção em linhas distintas não é considerado cruzamento e sim um simples acasalamento.

Os cruzamentos serão bem-sucedidos quando a seleção for bem-feita. Muitos criadores não encontram o sucesso porque não saber fazer uma seleção bem-feita ou tem pressa e desistem do resultado antes do amadurecimento. Esse simples cruzamento demorou várias gerações para ser possível, para enfim deixar de ser um mero acasalamento e permitir que animais nascidos dentro da linha, onde o peso máximo de frango aos 90 dias era de 1,9 Kg para animais nascidos do cruzamento que terão peso próximo aos 2,0Kg, aí temos um belo exemplo de heterose, onde a média do desempenho das crias (2,0Kg) ultrapassa a média do desempenho dos pais (1,9Kg).

Mas nem tudo são flores, existe desvantagens nos cruzamentos. Quando selecionamos os animais na linha pura, os descendentes terão as mesmas características dos pais e assim sucessivamente, geneticamente falando, cruzamentos endogâmicos elevam o percentual de homozigose. Ou seja, os animais têm menor variabilidade genética, pois a deriva genética (“perda” de genes) é intensa. Quando cruzamos duas linhas distantes, iremos aumentar o percentual de heterozigose, assim ao ganharmos em produtividade perdemos em controle e esses animais não serão bons reprodutores ou boas matrizes. Não por suas características, mas pela imensa variabilidade de suas crias, nascerão animais com as características desejáveis, mas também nascerão muitos animais com características indesejáveis. Eis o motivo da recomendação do não cruzamento dos animais comerciais, como os caipiras melhorados. Esse cruzamento é também conhecido por cruzamento industrial, já que é destinado às indústrias (carne ou ovos).

A decisão em se fazer esse cruzamento deve considerar a comercialização ou abate de todos os nascidos, machos ou fêmeas. A manutenção das linhas é primordial para a produção constante desses animais “comerciais”.


Espero que este post tenha despertado o desejo de fazer uma boa seleção e um bom cruzamento, com objetivos bem definidos e métricas bem claras. A terceira e última parte dessa série será sobre o Tricross, cruzamento com belíssimo resultado e ainda bem forte na heterose. Não perca e aproveite para curtir nossa página no facebook.

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